Em encontro com a sociedade civil na COP27, presidente eleito comentou sobre setor que majoritariamente apoiou a reeleição de Bolsonaro
Em seu segundo dia de agenda pública na COP27, a conferência climática da ONU, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou sua relação com o agronegócio brasileiro. Ao se referir a empresários do setor, Lula disse não se preocupar se “o agro gosta” dele, mas que deseja ser respeitado.
A declaração ocorre em meio a uma tentativa do presidente eleito de aproximação com o setor, que majoritariamente apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro e onde o petista sofre uma das maiores resistências.
Os discursos de Lula na COP27 têm sido marcados pelas sinalizações de reestruturação do combate ao desmatamento no Brasil em seu próximo mandato, algo enfraquecido durante o governo Bolsonaro. O futuro governo tem sustentado que a retomada de uma política mais incisiva de preservação ambiental não se confronta com o desenvolvimento do agronegócio.
— Não me preocupo quando dizem que o agro não gosta do Lula. Não quero que gostem, mas que me respeitem — disse o petista durante um painel organizado pela sociedade civil, onde ouviu demandas e pedidos de grupos de jovens, cientistas e representantes dos movimentos negro e indígena, por exemplo.
A declaração ocorreu no momento em que Lula reforçava seu compromisso com a criação do Ministério para os Povos Originários, pelo reconhecimento dos quilombos brasileiros, e pelo combate ao garimpo e ao desmatamento ilegal. O chefe do Executivo usou ainda uma frase usada por Marina Silva quando assumiu o Ministério do Meio Ambiente, em 2003, de que seu interesse “não é proibir, mas dizer como fazer as coisas”.
Ontem, durante seu discurso na COP, Lula defendeu uma produção agrícola mais sustentável:
— Estou certo de que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável, com investimento em ciência, tecnologia e educação no campo, valorizando os conhecimentos dos povos originários e comunidades locais. No Brasil há vários exemplos exitosos de agroflorestas — disse o presidente eleito, que ainda afirmou que o novo governo vai priorizar a luta contra o desmatamento:
— Temos 30 milhões de hectares de terras degradadas. Temos conhecimento tecnológico para torná-las agricultáveis. Não precisamos desmatar sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo.
A tentativa de aproximação de Lula com o agronegócio se reflete no grupo escalado para tratar dos temas relacionados à área na equipe de transição, anunciada nesta quarta-feira por Geraldo Alckmin. O núcleo contém oito integrantes, sendo três ex-ministros da Agricultura.
Kátia Abreu e Neri Geller chefiaram a pasta durante o governo de Dilma Rousseff e Luiz Carlos Gudes, no primeiro mandato de Lula. Esse time tem como missão elaborar um diagnóstico em conjunto com representantes do agronegócio e desenhar diretrizes para uma nova política agrícola que atenda os interesses e, consequentemente, atenue as desconfianças dos produtores rurais.
Durante a campanha, Lula chegou a fazer críticas a parte do setor. Em entrevista ao Jornal Nacional, no primeiro turno, o petista afirmou ver a existência de um “agronegócio fascista e direitista”, favorável ao desmatamento e que “acha bom ter arma em casa”. O petista procurou diferenciar este grupo de “empresários sérios do agronegócio, que fazem negócios com Europa e China e não querem desmatar”.