O menino Gabriel da Guia Boa Sorte, de 9 anos, conseguiu realizar o procedimento cirúrgico no olho, nesta quarta-feira (23/11). Momentos antes, ele e o pai haviam sido barrados em uma manifestação contra o resultado das eleições, durante mais de três horas, na BR-364, em Cuiabá. O vídeo em que o pai suplica para passar pelo bloqueio viralizou nas redes sociais.
Gabriel passou por uma cirurgia de reconstrução de sua visão do olho esquerdo. O procedimento durou quatro horas e 20 minutos.
O pai do menino, Eder Boa Sorte, 41 anos, disse em entrevista à Folha de São Paulo que se sente aliviado depois de ter passado por momentos de ‘tensão e raiva’ na madrugada de terça-feira (22/11), quando foi impedido de passar pelo bloqueio para levar o filho da cidade de Sorriso, onde moram, até a capital de Mato Grosso, onde a cirurgia seria realizada.
O vídeo da discussão viralizou, mostrando o desespero do pai enquanto um dos manifestantes segurava um facão em tom de ameaça. As manifestações antidemocráticas contra a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições, ocorrem desde a noite de 30 de outubro no estado.
“Eu também não vou passar, mas meu filho não pode passar? Ele vai perder o olho! Se eu tivesse como ir de pé, eu ia. Meu filho vai perder o olho por causa dessa palhaçada?”, dizia o pai. “Não tenho filho com problema, vai de pé. Não vai passar”, gritava de volta o bolsonarista.
“Cheguei no local, apresentei meus documentos e expliquei que meu filho precisava fazer a cirurgia e que ele corria o risco de perder a visão. Fui recebido com um facão pelo representante e me senti ameaçado o tempo todo. Ele balançava [o facão] e mostrava dizendo que eu não passaria”, contou Eder.
O autônomo conseguiu ultrapassar a manifestação após receber orientação de alguns dos manifestantes de passar por dentro de uma propriedade particular. Ele fez o retorno e entrou em uma fazenda, onde saiu cerca de 2 km à frente do bloqueio e conseguir seguir viagem. “Eles são os verdadeiros manifestantes porque respeitam o direito de ir e vir. Em caso de saúde, isso não é coisa que se faz”, disse o pai à Folha.
Este é o segundo procedimento cirúrgico pelo qual Gabriel precisou ser submetido após um acidente em sala de aula, quando um dos seus colegas arremessou um lápis como se fosse uma flecha e acertou a lateral de seu olho.
A primeira cirurgia de reconstrução do olho foi realizada no dia 27 de setembro. Como a cirurgia não é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a família precisou entrar na Justiça para conseguir que o procedimento fosse realizado. A decisão favorável demorou mais de três meses.